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Foto do escritorNice Tupinabá

Cores grafitadas contam a história de Kina Kokama


Uma mulher destemida, lutadora com a cria na barriga e depois nos braços, ultrapassando barreiras desde o seu nascimento, fazendo barulho com a arte que desenha a história da própria vida. Nomeada Kina Kokama, um nome forte de origem indígena, logo se percebe que se trata de uma mulher grandiosa, dona de um conto que reflete o retrato da multiplicidade de mulheres que nela se enxergam e buscam alcançar os mais distantes dos sonhos. Ela é indígena, acumula 26 anos de existência, mãe de dois meninos, nascida em Manaus, no Amazonas, ela vive de arte, mais especificamente do Grafite e das diferentes formas que ela colore, dando vida aos espaços em branco que ela encontra pelo caminho.

A grafiteira desenha com afeto e muita dedicação, transbordando em cada cor a sua própria identidade, marcando o trajeto de mais de nove anos de atuação nas ruas, galerias, teatros e centros culturais, além de realizações de oficinas de grafismo dentro das comunidades indígenas, um povo do qual ela pertence e luta para conhecer as raízes da sua originalidade. Nas imagens criadas por ela é possível perceber a delicadeza de cada rabisco em torno das telas, paredes ou espaços que recebem a história de uma mulher indígena, do povo Kokama, que na cidade grande se tornou artista, mas sempre carregando as origens de um povo conhecido pela resistência e diversidade cultural incomparável.

Ainda em fase de descoberta sobre a própria história, kina fala com muita emoção e carinho das origens que estão se apresentando a ela pouco a pouco, com ajuda de antropólogos e povos indígenas que contribuem na descoberta da descendência de uma mulher que exala uma força única, sentida na fala e no jeito de pintar. “Eu tenho muito orgulho em dizer que eu tenho raízes Kokama e que eu posso representar os povos indígenas de alguma forma, eu tenho aprendido muito sobre as minhas origens. O que eu faço dentro do grafite com a linha de cultura indígena, é tudo o que eu sou, é o meu maternar, cuidados com a natureza e familiares. O povo Kukana são pessoas cuidadosas e de muito amor, então eu me sinto muito honrada por dar voz a esse povo em especial, mas também, a população indígena como um todo”, frisou a originária.

A Manauara se apaixonou pela primeira vez aos 10 anos de idade, foi na escola que ela conheceu o grafite, que arrebatou o seu coração e fez com que a relação perdurasse até os dias de hoje, a paixão virou amor, e hoje ela vive integralmente de arte, levando por meio dela o sustento dos filhos, que em algumas ocasiões compartilham com a mãe o derrame de cores que a vida colocou no caminho da família. "Eu me apaixonei pela história do grafite, ele é a minha vida e representa para mim uma espécie de cura, ele me acalma e me mantém de pé. Pois quando ele surgiu na minha vida, eu enfrentava alguns problemas, e somente a arte me devolveu a vida”, relatou a artista.

Kina é sonhadora e realizadora, a prova disso foi o Primeiro Festival Internacional de Graffiti feminino, Ypai Waina, que ocorreu no mês de março, idealizado pela artista. "Foi muita bacana, eu sempre quis fazer um grande festival voltado para as mulheres e mesmo com vários percalços nós conseguimos. Foi lindo!" destacou a artista que em meio ao colorido do grafismo, destaca alguns pontos a serem desenhados, como por exemplo a falta de política de incentivo, que apoiem mães na conciliação da maternidade com o trabalho na arte. “Eu desejo que haja mais espaço e acolhimento para as mães que são artistas, pois não é fácil conciliar a maternidade com o trabalho, e isso se dá por conta dessa falta e dessa sobrecarga que enfrentamos. Onde não há estrutura adequada para atender a nós mulheres, que somos mães e artistas”, explicou.

O crescimento se aproxima, e de repente, o que era projeto, sai do papel e se torna realidade, é chegada a primeira exposição de telas de Kokama, a previsão é para o próximo mês, no Museu Palácio Rio Branco, localizado no centro da capital do amazonas, um lugar de energias notáveis, pois embaixo da grande estrutura existiu um vale de ossos indígenas, ancestrais de Kina, que ao colocar os pés no lugar sente o inexplicável. " É muito pesado e forte pisar ali naquelas terras, quem tem minhas raízes fincadas, é muito forte saber que antes aqui era um cemitério indígena, e hoje, eu apresento a minha arte", ressaltou a indígena.


Para viajar para dentro das expressivas pinturas da artista, basta acessar as redes sociais de Kina Kokama e acompanhar o lindo trabalho que ela coloca em exibição nas ruas amazonenses.

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